sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

E tu, és Charlie?

- “Eu sou Charlie!”, disse ela com toda a certeza do mundo. 
- “És? Ou gostavas de ser?”
- “Eu? Eu sou, ora essa! Sou! Somos todos! Jornalistas e não só! Je suis Charlie! Nous sommes Charlie! Todos somos Charlie! Fui à manifestação. Gritei. Emocionei-me!”
- “Mas és Charlie todos os dias? Sempre?”
Pausa.
- “Acho que sim, bolas. Faço-o automaticamente. Ajo livremente. Conscientemente.”
Pausa interrogativa.
- “Hummm… Mas… Por exemplo, enviaram um repórter a Paris para cobrir os acontecimentos?”
Pausa preocupante.
- “Não… Infelizmente não…”
- “Porquê? Por que motivo?”
- “Pelo que me disseram, não havia dinheiro para isso.”
Pausa grave.
- “Vês? És Charlie só se tiveres dinheiro para ser Charlie. Não somos todos Charlie…”
- “Non! C’est pas vrai! És um castrador! És um materialista! Não é preciso dinheiro para se dizer a verdade! Oui, Je suis Charlie!!!”
- “Só sabes a verdade se tiveres dinheiro para a procurares. A imprensa não é nem está Charlie. Era bom que estivesse, mas não está. Não somos todos Charlie, querida… Lamento desiludir-te com a realidade. Mas fica-te bem sonhar. E gosto do teu sotaque francês…”






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